No
princípio, há uma madrugada suja: uma noite de álcool de estudantes que acaba
num pesadelo que vai perseguir os seus protagonistas durante anos. Depois, há
uma aldeia do interior alentejano que se vai despovoando aos poucos, até restar
apenas um avô e um neto. Filipe, o neto, parte para o mundo sem esquecer a sua
aldeia e tudo o que lá aprendeu. As circunstâncias do seu trabalho levam-no a
tropeçar num caso de corrupção política, que vai da base até ao topo. Ele
enreda-se na trama, ao mesmo tempo que esta se confunde com o seu passado
esquecido. Intercaladamente, e através de várias vozes narrativas, seguimos o
destino dessa aldeia e em simultâneo o dos protagonistas daquela madrugada suja
e daquela intriga política. Até que o final do dia e o raio verde venham pôr em
ordem o caos aparente.
Excerto
“E agora, de volta à minha aldeia, onde a luz eléctrica chegara tarde
demais para os homens, madrugada dentro, eu lia o Guerra e Paz. Numa aldeia
morta, numa noite deserta, seguia, como se estivesse a ver, o esplendor dos
salões de baile do Império Russo, a imensidão das estepes gélidas, os gritos de
horror dos estropiados pelo fogo dos canhões de Napoleão Bonaparte, e
chegava-me mais ao calor da lareira para não sentir a solidão das trincheiras
de lama, húmidas, frias, desoladas, onde se abrigava o exército de Kutúsov.
Alguém dissera um dia que se podia viver sem tudo, menos água e comida, mas que
viver sem livros e sem música não seria o mesmo que viver.”
Fonte: http://www.wook.pt/ficha/madrugada-suja/a/id/14937645
Boas leituras!
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